Essa é uma matéria tirada do livro "O Poeta", do autor Michael Connelly, feita pelo grande escritor Stephen King. Foi uma amiga que me enviou esta Introdução (não é encontrada na
net), então venho com esta matéria mostrar, pelo que eu achei, uma Introdução e tanto.
Ela inicia logo abaixo:
"Tanto para um escritor quanto
para um leitor pode ser
extremamente difícil começar um livro. Ninguém na estória lhe parece
familiar e todos os lugares são estranhos; por isso o início da leitura é
como um ato forçado de intimidade. Uma hooker pode ajudar (hooker pode
significar tanto prostituta quanto algo que fisga, que engancha).
Ou
seja, mas sobretudo a uma boa frase inicial. Sou louco por bons
inícios, coleciono-os num caderninho do mesmo modo que algumas pessoas
colecionam selos ou moedas, e a primeira frase de O Poeta é magnífica. "
A morte é meu negócio " , escreve Jack McEvoy, e somos imediatamente
fisgados. Não se trata de um embuste, mas de uma frase que estabelece
perfeitamente o tom da narrativa: sombria, melancólica, simplesmente
assustadora. Ela também serve para distanciar O Poeta dos quatro
romances que Connelly havia escrito até então. Seus livros anteriores
são sobre um personagem recorrente. Posso imaginar Harry Bosch (de The
Concrete Blond, etc...) dizendo algo parecido com "A morte é meu
negócio", mas não antes do auge da sua desilusão.
A
primeira coisa que você precisa saber sobre este romance é que trata-se de
uma obra de narrativa admirável e consistente, deliciosa de ser lida se
você gosta de histórias de suspense. Este livro é repleto de incidentes e
personagens, muitos dos quais pitorescos; eu contei 28 "personagens que
falam", mas sei que não cheguei nem perto do número real. Apesar disso,
o leitor não vai se perder ao longo da narrativa, pois Jack está quase
sempre por lá, sustentando a estória, e "A morte é o (seu) negócio".
A
segunda coisa que precisa saber sobre O Poeta é que a estória é
realmente horripilante. Todos conhecemos o velho lugar-comum de ler com
as luzes acesas (como se pudéssemos ler alguma coisa no escuro), mas
quando li O Poeta pela primeira vez em Boulder, no Colorado, a menos de
70 Kms do local da morte de Sean McEvoy, fragrei-me em busca de
interruptores enquanto a narrativa se aproximava do clímax e a noite
caía. Considero-me relativamente imune ao terror imaginário, mas, à
medida que seguia Jack pelo mundo do Poeta, ficava cada vez mais
assustado. Não acredito que eu escute novamente o guincho dos modems se
conectando, sem me lembrar desse romance. E Connelly nos mantém em
suspense por meio da boa e velha "arte de contar estórias". Há
bastante sangue para os fãs de estórias violentas - uma atraente
universitária é encontrada dividida em duas, por exemplo - mas o sangue
não é derramado para robustecer uma trama frouxa. Porque a trama de O
Poeta não afrouxa. Vou repetir: este livro é um romance, não é uma
fraude, e traz consigo as antigas delícias da arte de narrar.
A
prosa de Connelly é alternadamente simples e elegante. Ela envolve o
leitor em uma trama que funciona como uma estória clássica de mistério
(nesse caso, whodunit e howdunit ao mesmo tempo - gêneros de
literatura policial em que a trama gira em torno da investigação sobre
quem cometeu o crime (whodunit) ou como o crime foi cometido (howdunit).
No
final, após uma série de surpresas que explodem como bombas de dinamite
em locais estratégicos, o leitor olha para trás e percebe como foi
meticulosa (e engenhosa) a elaboração da obra. Repito, não há embuste.
Os autores desse tipo de livro querem que os leitores se surpreendam ou
até mesmo que se choquem, quando a verdade vem à tona nos dois últimos
capítulos. (Lembre-se de como você se sentiu quando realmente descobriu
quem matou Roger Ackroyd). Após anos lendo os livros de Ellery Queen,
John D. McDonald, Elmore Leonard, Ngaio Marsh, Ruth Rendell, ente
outros, muito raramente nos surpreendemos. Porém, fiquei surpreso com O
Poeta. E também chocado. A estória vai muito além do simples mistério,
mas mesmo assim, Michael Connelly respeitou bastante as normas de lógica
rigorosas da narrativa do gênero. O resultado é um romance denso e bem
elaborado que merece ser lido duas ou mais vezes.
Esta
foi a melhor obra produzida por Connelly até então 1996, garantindo-lhe
um lugar entre os autores mais importantes do genero na virada do
século. Não uso a palavra clássico levianamente, mas acredito que O
Poeta possa de fato se tornar um Às vezes um romancista nos deixa uma
mensagem maravilhosa nas entrelinhas "Sou capaz de muito mais do que eu
havia imaginado". O Poeta é um livro desse tipo, longo e denso,
complexo e prazeroso. Desejo-lhe todo o prazer de descobrir o que há
além de "A morte é o meu negócio".
Stephen King
18 de outubro de 2003
Palavras de quem me enviou: Bom,
reza o ditado de que para bom entendedor, meia palavra basta, pois é.
Então eu acho que você bem pode apreender o que SK quis dizer sobre
Connelly e seu modo de instigar o leitor. Instiga de tal modo, o
Michael, que O Poeta não acaba aí nesse livro, é preciso ler Correntezas da Maldade que vem em seguida a esse livro.
E veja como Stephen fala das entrelinhas, pois eu sempre
achei que são elas que desencadeiam a estória e são nelas que sempre
estão a verdade bem verdadeira de qualquer boa narrativa.
Ah sim, o
assassino pancadão foi intitulado O Poeta porque era sua assinatura
básica nos crimes, poemas, trechos de poemas de Poe...
Obrigado.
Vincent Law
Escreva-me: Galeondias@hotmail.com
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