1 - Crime e Castigo, de Dostoiévski
Nenhum escritor teve tão poucas papas na língua para descrever a pobreza moral humana do que Jonathan Swift. Ensaísta e panfletário brilhante, ele publica As Viagens de Gulliver em 1726 com a intenção de "envergonhar o mundo, mais do que diverti-lo". E, divertindo-o como poucos, ele põe a nu as pretensões humanas nas viagens de Gulliver a Liliput, Brobdingnag, Laputa e Glubdubdrib, com seus seres vaidosos, imediatistas, bitolados e falsos, sintetizados finalmente nos Yahoos, sujos e degredados e estranhamente semelhantes aos homens. Swift fundou a prosa inglesa moderna e seu livro é a demonstração de que o orgulho humano não é tão racional.
7 - A Odisséia, de Homero
Não há que escolher entre A Ilíada e A Odisséia: os dois livros devem ser lidos. Primeiro é o maior poema sobre uma guerra, ao mesmo tempo épico e detalhista, um prodígio de fluência narrativa e invenção melódica. A Odisséia é uma multiplicação ainda maior de histórias dentro da mesma história, a grande viagem de retorno de Ulisses (Odisseu) para sua terra, interceptada por seres fascinantes e lugares surpreendentes, que testam a grande virtude do navegador: sua capacidade de não perder o bom senso no pico das crises, de não ser sugado pelo abismo dos sentidos e dos desejos. Se houvesse um só livro para ler, e esse livro fosse A Odisséia, não poderíamos reclamar da literatura.
8 - Ulisses, de James Joyce
James Joyce era um sujeito tão excêntrico, tão excêntrico, que um dia teve uma ideia tão ambiciosa quanto óbvia: adaptar A Odisséia para nossa pobre vida cotidiana, sem heroísmos e mitologias, sem destinos grandiosos ou mesmo qualquer destino. E em 1992 ele publicou Ulisses, um relato que comprime em 24 horas de um perambular por Dublin os dez longos e atribulados anos que o Ulisses homérico gastou para voltar a Ítaca. Numa linguagem repleta de inovações, trocadilhos e cortes, perturbadoramente descontínua, entramos na cabeça de Stephen Dedalus, Leopold Bloom e Molly Bloom, três irlandeses aparentemente comuns. E de repente nos sentimos num mundo tão deslocado quanto o de Homero, como se o familiar e o estranho fossem um só.
9 - Em Busca do Tempo Perdido, de Marcel Proust
Publicado entre 1913 e 1927 em sete volumes, este é o maior romance do século, tanto no tamanho como na complexidade. Dezenas de personagens se cruzam em histórias de amor, ciúme e inveja, na França da Belle Époque, e a narrativa vai passando do detalhe ao painel e do painel ao detalhe sem fazer projeções definidas, num constante reajuste de tudo aquilo que nunca será perfeitamente ajustado. A grandeza do romance de Proust pode ser entendida na seguinte equação: há centenas de cenas e figuras memoráveis, mas, tal como um poema, não se pode resumir a história sem prejuízo dela mesma, tal o feitio das frases, modulação das vozes, a inteligência do texto.O micro e o macro nunca se relacionaram assim antes.
10 - As Flores do Mal, de Charles Baudelaire
A poesia francesa e mundial, a arte e a própria vida nunca mais foram as mesmas depois que Charles Baudelaire escreveu As Flores do Mal, em 1857. Acusada de blasfêmia e obscenidade, a reunião de poemas sobre o tédio e a hipocrisia da vida humana é menos agressiva do que pode parecer. O segredo de Baudelaire, que lhe permitiu se apropriar do passado e preparar o futuro da literatura, foi juntar a eloquência clássica com as dissonâncias e imprecisões que seriam marcas da modernidade. Numa mesma estrofe, ele vai do sussurro ao grito, do doce ao amargo, e cria uma experiência vital. Baudelaire também foi grande crítico de música e pintura, derrubando o mito de que o crítico é um criador frustrado.
Personagens tão reais quanto coisas, suas relações com dinheiro, amor e status, a busca pela glória, o choque das gerações, a inveja e o ciúme – todos os sentimentos humanos são recriados por Balzac (1799-1850) neste romance inesquecível. Respire fundo antes de entrar; é aos poucos que Balzac vai acumulando cenas e observações que vão ganhando sutileza e profundidade, e a figura de Lucien de Rubempré, o talento provinciano e romântico que tenta se afirmar em Paris, ao mesmo tempo nos expõe suas fraquezas e mediocridades e nos causa empatia irreversível.
12 - O Vermelho e o Negro, de Stendhal
Ao lado de Ilusões Perdidas, é o grande romance do século 19. Mas não se assuste com isso ou com o rótulo de "clássico" e suas mais de 500 páginas. Deixe o ritmo de Stendhal (1783-1842) conduzi-lo,e a recompensa virá no conhecimento de Julien Sorel, o pobre ambicioso que quer ascender socialmente numa Paris em convulsão, mas nunca é inteiramente "aceito" porque, dono de um objetivo só, não pertence a grupos e desconhece seus códigos. Como em todo grande romance, não sabemos de que lado ficar.
13 - Madame Bovary, de Gustave Flaubert
Depois de tantos romances sócio-psicológicos majestosos como os de Balzac e Stendhal,Flaubert (1821-80) veio criar uma nova forma de contar histórias. Em Madame Bovary ele se ateve ao enredo tradicional, uma historinha de adultério. Mas colocando a mulher como protagonista e pintando uma galeria de homens patéticos, cada um a seu estilo, Flaubert reverteu a retórica e forjou um estilo cuidadosamente despojado, que rejeita o "crescendo"e o detalhismo. Flaubert revolucionaria a prosa de ficção ao defender que cada história tem seu estilo e a jamais se repetir de um livro para outro.
14 - Tom Jones, de Henry Fielding
Depois da sátira moral de Jonathan Swift em Gulliver, o romance inglês nunca mais seria o mesmo. Agudo e irônico como Swift,Fielding (1707-54) veio lhe retirar o moralismo e dar um alcance social em Tom Jones, uma trama realista que envolve pela sensual sequência de peripécias – amores, duelos, banquetes – comentadas pelo narrador falívele corajoso. A riqueza de personagens, especialmente da virtuosa Sofia, o Graal que Tom persegue, é acentuada pelo encadeamento das ações, em vez de atenuada em estereótipos. Um grande feito literário.
15 - Nicholas Nickleby, de Charles Dickens
Se Honoré de Balzac é o ápice da criação de personagens na Paris da primeira metade do século 19, Charles Dickens o é em Londres. Autor de numerosas histórias que passaram ao imaginário ocidental com uma força única, Dickens atingiu em Nicholas Nickleby (1839) uma energia que não se repetiria nas obras mais maduras e controladas, como David Copperfiel e Bleak House. Ninguém capturou o mundo social que envolve as crianças como Dickens, o impacto do abandono e dos maus-tratos e o sentimento de revolta que esse impacto vai deixar para sempre.
16 - Emma, de Jane Austen
No romance inglês do século 19 algumas mulheres despontaram com uma capacidade impressionante de observação sintética: Charlotte Brontë (Jane Eyre ), George Eliot (Middlemarch ) e Jane Austen (1775-1817). Das três, Austen é aquilo que se acostumou a chamar de mais "feminina": suas mulheres parecem frágeis ou impotentes em boa parte do tempo, mas nos momentos cruciais revelam uma força de caráter e expressão que só se adivinhava em detalhes. Os costumes e suas motivações – sempre em torno de casamentos – são descritos com uma finura insubstituível.
2 comentários:
Pois é... tem um monte aí que ainda tenho que ler!rsrs...
Mas vamos lá, né?rsrs
Beijos!
O livro O Tempo e o Vento é um livro muito rico, e há até uma série de Tv que passou no passado. Posso dizer que é uma das histórias mais ricas que já houve na humanidade. Qualquer personagem nesta obra poderia vir a ter o seu próprio livro solo, já que cada um deles são excelentes.
Bjs.
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